Denominada como infecção protozoária polissistêmica, a doença do carrapato acomete qualquer animal suscetível à infestação do parasita. Um único carrapato pode ser o responsável pela transmissão de uma das doenças relacionadas: babesiose, erliquiose, anaplasma e hepatozoo.
Doenças hematogenias (infecção ocorre por via sanguínea) cuja potência de contaminação ocorre de acordo com seu estágio que pode ser: aguda, crônica ou subclínica. A sua forma aguda resulta na apresentação dos principais sintomas que são sangramento das mucosas, anemia, apatia e emagrecimento.
O estágio crônico é persistente, e os animais inseridos nesta condição têm a doença do carrapato recorrente, podendo ser subclínica ou não. Esta por sua vez, não é notável nenhum sinal da existência da doença, o animal permanece com aspecto saudável, sendo identificada apenas quando realizado exame hematológico (hemograma).
Dentre as patologias apresentadas, existe similaridade sintomática, mas, também suas diferenciações. No momento em que são diagnosticadas, deve-se iniciar o tratamento imediato e segui-lo a risca, para garantir a vida do animal.
Tipos de carrapato
As famílias dos carrapatos são variadas, e nem todas acometem os cães, os tipos resultam em Ixodidae, Dermacentor, Amblyomma, Hyalomma, Rhipicephalus sanguineus.
Da família Ixodidae, os Carrapatos Duros, têm em seu dorso uma espécie de escudo, circundado por festões – uns tipos de pregas. Podem ser classificados parasita de um, dois ou três hospedeiros, vai depender da quantidade de mudas desenvolvidas – larva a ninfa, ninfa a adulto – realizadas sobre o animal ou no ambiente.
O Dermacentor variabilis, além de parasitar os cães, pequenos roedores também são vítimas da sua ingurgitação sanguínea. Este tipo de carrapato é transmissor da febre maculosa das Montanhas Rochosas e causa paralisia. Suas fêmeas só cessam a sucção do sangue quando estão completamente satisfeitas, pode durar dias, resultando no aumento volume corporal.
Há várias espécies do Amblyomma (A. americanum, A. maculatum, A. cajennense e A. imitator) transmissor patológico da Erliquiose. Sua saliva é tóxica e dissemina facilmente as doenças causadas por carrapatos da família Amblyomma.
É muito comum a infestação de carrapatos em animais, pois facilmente eles se reproduzem no ambiente ou no próprio hospedeiro. Uma fêmea chega a colocar centenas a milhares de ovos, que eclodem num pequeno espaço de tempo e reiniciam o ciclo reprodutivo, que pode ser no hospedeiro ou no ambiente, vai depender da espécie de cada família do carrapato. Suas fazes são: ovo, larva, ninfa e adulto.
Frestas, areias, paredes e roupas acumuladas são excelentes locais no ambiente onde os carrapatos costumam se alojar para a realização da muda. O ciclo pode ocorrer parte no ambiente e outra no hospedeiro, como é o caso da espécie Rhipicephalus sanguineus (o carrapato marrom do cão).
A fêmea, em forma de larva alimenta-se no hospedeiro por dias, ao se desprender da pele do cão fica no ambiente para atingir o estágio de ninfa.
A ninfa retorna para o hospedeiro até ficar ingurgitada (repleta de sangue), podendo durar semanas, e retornam ao solo para a deposição dos ovos que chegam a 2.000 a 4.000 unidades.
Sintomas da doença do carrapato
A sintomatologia vai depender da doença em si: Babesiose, Hepatozoo, Erliquiose ou Anaplasma. A contaminação pode ser de uma ou mais doenças concomitantes.
Babesiose
Animais acometidos por Babesiose ou Babésia (popularmente conhecida) têm como protozoário o Babesia canis, transmitido pelos carrapatos Dermacentor spp e Rhipicephalus sanguineus. O animal contaminado pode apresentar quadro sistêmico, hiperagudo ou agudo, a anemia é bem característica – já que os parasitas se alimentam do sangue de seu hospedeiro. A infecção bacteriana é disseminada e com isto surge a febre indicando a infecção.
É bem notório o aspecto pálido das mucosas da gengiva e problemas oculares. A falta de oxigenação tecidual faz com que o sistema cardiorrespiratório tente compensar o alcance do fluxo sanguíneo a todos os órgãos, portanto, taquicardia e taquipneia são observadas em cães infectados.
O acúmulo de líquido na cavidade torácica e abdominal leva ao aumento do volume corporal. A anemia hemolítica é perceptível nos quadros hemorrágicos. Com a evolução de todos estes sintomas o animal pode chegar a óbito.
Hepatozoo
Transmitida pelo carrapato Rhipicephalus sanguineus por via sanguínea ou transplacentária. A ingestão do carrapato contaminado após repasto sanguíneo é iniciado o desenvolvimento da doença.
Pode ser assintomática quando subclínica, ou seja, a maioria dos animais não apresentam aspectos clínicos. Na manifestação dos sintomas, percebe-se anemia, cujo diagnóstico é feito inicialmente por avaliação das mucosas e confirmado com hemograma. O animal inicia um quadro depressivo e consequentemente perda do apetite. É possível observar corrimento ocular e nasal, diarreia sanguinolenta é outro aspecto sintomático da doença.
Erliquiose
Causada pelo carrapato Rhipicephalus sanguineus e Dermacentor variabilis a sintomatologia pode variar de acordo com a imunidade de cada animal. Alguns deprimem consideravelmente, enquanto outros não apresentam sintomas notórios inicialmente.
Na fase aguda é percebida febre, anorexia, perda de peso, dificuldades respiratórias e secreções ocular e nasal com aspecto purulento. Já na fase crônica, a depressão, redução do peso, dor abdominal, hemorragias, ruído pulmonar, aumento do fígado e baço, dor articular e arritmias.
Febre e apatia também estão presentes, em virtude da trombocitopenia o animal tem quadro hemorrágico e formação de petéquias subcutânea.
Anaplasma
Causada pelo carrapato Rhipicephalus sanguineus. Os sintomas mais observados são sangramentos pela mucosa gengival, subcutâneo (surgem petéquias), pelas narinas (epistaxe) e hemorragia na retina ocular.
Pode ocorrer de haver coinfecção da Erliquiose canina, levando ao agravamento da doença e seu aspecto clínico. Quando não tratada, o animal morre em poucos dias.
Tratamento para a doença do carrapato
Todas estas doenças (babesiose, anaplasma, erliquiose, hepatozoo) podem desenvolver hemorragias e como tratamento, é indicado o uso de medicamentos que auxiliem a formação de agregado plaquetário, assim como, transfusão sanguínea quando os níveis de sangue ficam abaixo da referência.
A Babesiose altera os níveis de ácido lático, provocando acidose metabólica (causa óbito do animal) e como medida de urgência é feita terapia com bicarbonato de sódio para controlar a acidose. A fluidoterapia equilibra os eletrólitos, sua utilização deve ser feita quando não há quadro de edema e ascite (acúmulo de líquido) nas cavidades.
Os fármacos empregados para o tratamento são aceturato de diminazeno e diproprionato de imidocarb. No caso da Hepatozoo, até o momento não há uma terapêutica eficaz para curar a doença, o protocolo usual é diproprionato de imidocarb e doxiciclina associados, no entanto é percebida resistência protozoária em relação a tais fármacos.
Para Erliquiose e Anaplasma, emprega-se (por 28 dias ou mais) o uso do antibiótico doxiciclina. Destaca-se, são doenças que vem apresentando bastante resistência contra a terapêutica empregada.
Prevenção da doença do carrapato
É importante fazer o controle contra infestações de carrapatos, manter o animal em local limpo e livre do parasita. O ambiente pode ser dedetizado com triatox ou deltametrina, mas, requer muito cuidado devido sua toxicidade causadora de morte de muitos animais, quando não utilizado corretamente.
Administrar, por via oral, o princípio ativo afoxolaner (encontrado facilmente em clínicas veterinárias) com durabilidade de quatro meses. Neste período o animal e o ambiente ficam livres de qualquer espécie de carrapato.
Como alternativa, é possível aplicar sobre o dorso do animal uma dose de fipronil (princípio ativo) de acordo com o peso. É de suma importância levar o animal ao médico veterinário regularmente para prevenir doenças e manter o controle dos carrapatos.